São João da Cruz – 14 de Dezembro

Mestre de teologia e místico espanhol.
São João da Cruz nasceu em 1542 em Fontiveros, na província de Ávila, Espanha, com o nome de Juan de Yepes Álvarez. Veio de uma família empobrecida após a morte precoce de seu pai, Gonzalo de Yepes, que havia sido deserdado por casar-se com Catalina Álvarez, uma tecelã de origem humilde. A viúva criou seus três filhos em extrema pobreza, Francisco, João e Luís, este ultimo morreu ainda na infância e João trabalhou desde muito jovem e também mostrou forte inclinação para os estudos, tendo sua mãe o enviado para o Colégio de los Doctrinos.
Durante sua juventude, João trabalhou em um hospital em Medina del Campo, cuidando de enfermos, e simultaneamente estudou com os jesuítas. Aos 21 anos, em 1563, ingressou na Ordem dos Carmelitas, tomando o nome de João de São Matias. Foi ordenado sacerdote em 1567, após estudar teologia na prestigiosa Universidade de Salamanca.
O encontro decisivo de sua vida ocorreu em setembro de 1567, quando conheceu Santa Teresa de Ávila, que estava reformando a Ordem Carmelita feminina. Teresa o convidou para iniciar a reforma masculina dos Carmelitas, retornando à regra primitiva da ordem com ênfase na contemplação, pobreza e vida comunitária. João aceitou entusiasticamente e, em 1568, fundou o primeiro convento de Carmelitas Descalços masculino em Duruelo, adotando o nome de João da Cruz.
A reforma carmelita encontrou forte resistência dentro da própria ordem. Os Carmelitas Calçados (a antiga observância) viam os reformadores como rebeldes e cismáticos. Em dezembro de 1577, João foi sequestrado por membros de sua própria ordem e aprisionado em um minúsculo calabouço em Toledo. Durante nove meses, sofreu isolamento, açoites regulares, fome e humilhações. Nesse período de extremo sofrimento, compôs mentalmente alguns de seus mais belos poemas místicos, incluindo grande parte do “Cântico Espiritual”.
Em agosto de 1578, João conseguiu uma fuga dramática da prisão, descendo pela janela usando cordas improvisadas com tiras de cobertores. Refugiou-se em um convento de carmelitas descalças e, recuperado, continuou seu trabalho de reforma e orientação espiritual.
São João da Cruz é considerado um dos maiores poetas da língua espanhola e um dos principais mestres da teologia mística cristã. Suas obras principais incluem: “Subida do Monte Carmelo”, “Noite Escura da Alma”, “Cântico Espiritual” e “Chama Viva de Amor”. Nesses escritos, ele descreve com precisão psicológica e teológica o caminho da alma em direção à união com Deus.
Sua doutrina espiritual é profunda e exigente. João ensina sobre a “noite escura” – períodos de aridez espiritual e purificação que a alma deve atravessar para alcançar a união transformante com Deus. Ele distingue entre a noite dos sentidos (purificação inicial) e a noite do espírito (purificação profunda da alma). Sua mensagem central é que devemos esvaziar-nos de tudo que não é Deus para sermos preenchidos por Ele: “Para vir a possuir tudo, não queiras possuir algo em nada”.
Durante os últimos anos de sua vida, João serviu em várias funções administrativas na ordem reformada, mas também enfrentou incompreensões e perseguições de confrades. Alguns membros da ordem reformada o acusaram injustamente e tentaram expulsá-lo. Em 1591, doente e em desgraça dentro de sua própria ordem, foi enviado ao convento de Úbeda, onde o prior o tratou com frieza e desprezo.
São João da Cruz faleceu em 14 de dezembro de 1591, em Úbeda, aos 49 anos, após uma dolorosa enfermidade. Suas últimas palavras expressaram alegria em ir ao encontro de Deus. Foi beatificado em 1675 por Clemente X, canonizado em 1726 por Bento XIII, e declarado Doutor da Igreja em 1926 por Pio XI, recebendo o título de “Doutor Místico”.
Sua festa litúrgica é celebrada em 14 de dezembro. São João da Cruz permanece como um guia essencial para a vida contemplativa e para todos aqueles que buscam um relacionamento profundo com Deus, especialmente durante períodos de provação e escuridão espiritual. Sua poesia mística continua sendo lida e admirada tanto por seu valor espiritual quanto por sua beleza literária incomparável.

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